domingo, 13 de abril de 2008

E eu não saí do lugar.

"Bora sair, se divertir, aproveitar."

Ontem eu saí, me diverti, bebi, misturei, deixei de sentir(?), e corri.

Alguma música igual a todas as outras tocando. Dor de cabeça, o gosto amargo, calor...

Um diálogo não planejado, em um tom que não é meu.

"Me dá a chave do carro, eu preciso deitar."
"Porra, eu não vou sair dirigindo, eu só preciso deitar um pouco!"

Esbarrando, quase escorregando. -Graças a Deus eu não tô de salto.

"Com licença, licença, desculpa moço, foi mal."

E na porta, o vento frio, finalmente. E por algum motivo, alguma coisa me disse: "Corre."

E não é que ontem, correr foi a melhor sensação do mundo?
Eu não senti minhas pernas cansando.
Não senti a falta de ar.
Pelo contrário, minha dor de cabeça sumiu. Cada vez mais, o vento frio me fez esquecer qualquer calor que eu tava sentindo. E eu consegui respirar fundo.

Corri, corri, e corri. Fui e voltei, pra tudo quanto é lado, pra lugar nenhum.
Sem medo de ninguém.
Às três da manhã, corri.

E alguém sem nome, o rosto um borrão, uma voz longe, me perguntou:
"Moça, por quê você tá correndo?"

E a resposta veio também correndo, sem nenhuma hesitação:

"Motivo nenhum, moço."

Um segundo confuso, onde tá o carro, onde ela deixou o carro? Corro de volta, não...aquele tem quatro portas...corro, corro, aonde?

O estacionamento. Meu raciocínio lento e rápido ao mesmo tempo. Desnecessário explicar o motivo. E o guardador de carros, provavelmente com medo que eu fosse sair dirigindo, me seguiu com uma cara preocupada.

-"Moço, não se preocupa, eu não vou sair com o carro, eu só vou pegar um negócio."
Meia mentira.

E ele, claramente aliviado, disse que tudo bem, que eu podia ficar à vontade.

Chave, destranca, e pronto. O silêncio zunindo, invadindo meu ouvido.
Muita coisa, muita coisa, muita coisa.
Muito tempo.
Melhor voltar pra lá.

E lá está o guardador do estacionamento, de novo.

"Moça, você tá bem, porquê você tava correndo?"

Por algum motivo eu começo a rir e, na falta de uma resposta melhor:

"Deu vontade de correr moço, corri."

E então ele falou uma coisa que pra mim foi uma das, se não a única coisa que fez sentido na minha semana inteira.

"É, só que a gente às vezes corre, corre, corre, e não sái do lugar, não é mesmo?"

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