Não sei de que livro é isso, mas eu vi em um blog, li, e achei tão envolvente que eu resolvi traduzir.
"Eu não sei do que preciso, mas por nenhuma razão aparente me sinto terrivelmente mal. Nada aconteceu, absolutamente nada, mas está difícil respirar.
O ar na Loja é bem mais pesado com o forte cheiro de suor, isopropil, álcool, toda a solução para limpeza, mas também não é isso...
(...)
Pego um copo d'água. E ando para o corredor. Isso é um erro. Eu devia ter ficado junto com outras pessoas. O conforto da companhia e tudo mais. Ao invés, estou só, com uma lista correndo pela mente: Intoxicação alimentar? Não, meu estômago está normal. Abstinência? Saí da dieta de coca e ecstasy há meses, e não fumei nada hoje de manhã - meu ritual cotidiano - E eu sei que isso não causa dependências físicas de longa duração. E da porra do nada, tudo fica substancialmente mais tenebroso. Não uma escuridão absoluta. Nem mesmo uma escuridão de falta de energia. Mas como uma nuvem ofuscando o sol. Uma tempestade, na verdade. No entanto não há chuva. Não há nuvens. Está um dia claro e mesmo assim estou aqui dentro.
Eu queria que fosse só isso. Uma pequena queda de iluminação e uma leve dificuldade para respirar. Você poderia até pôr a culpa em um fusível queimado ou algum absurdo flashback relacionado às drogas. Mas as minha narinas queimam com o cheiro de algo amargo e podre, algo não-humano, fedendo com tantos anos de podridão, me falando na forma de náusea que eu não estou só.
Alguma coisa está atrás de mim.
É claro, eu tento negar.
É impossível negar.
Eu quero vomitar.
Para ter uma noção melhor disso: Concentre-se nessas palavras, e não importa o que aconteça não deixe seus olhos vagarem para fora do perímetro dessa página. Agora imagine que logo após o alcance da sua visão periférica, talvez atrás de você, talvez ao seu lado, talvez na sua frente, mas justamente onde você não pode ver, alguma coisa silenciosamente se aproxima de você, fechando o cerco ao seu redor. Tão quieto que você só consegue ouvir seu silêncio. Encontre esses vazios sem som.
Aí está. Bem nesse momento.
Mas não olhe. Mantenha seus olhos aqui. Agora respire fundo. Vá em frente e respire mais fundo ainda. Só que dessa que vez, quando começar a expirar, tente imaginar como vai acontecer rápido, como vai lhe atingir com força, quantas vezes vai atingir sua jugular com seus dentes (ou são lâminas?) Não se preocupe, esse detalhe em particular não importa, pois antes de você conseguir processar a idéia de que aquilo deve estar se movendo, você vai estar correndo, ou pelo menos levantando o braço para se proteger - você certamente já deveria estar largando esse livro - você não terá nem tempo para gritar.
Não olhe."